— Quem está aí? A boca do jovem esboçou um sorriso.
— Não brinqueis com o duque de Langeais — avisou Chauncey. — Perguntei seu nome. Dizei-o.
— Duque? — O rapaz apoiou-se no tronco sinuoso de um salgueiro. — Ou bastardo?
Chauncey desembainhou a espada.
— Retirai o que dissestes! Meu pai foi o duque de Langeais. Eu agora sou o duque de Langeais — acrescentou, amaldiçoando-se pela maneira desajeitada como dizia aquilo.
O jovem sacudiu a cabeça devagar.
— Vosso pai não era o velho duque.
Chauncey enfureceu-se diante de um insulto tão ultrajante.
— E vosso pai? — questionou, estendendo a espada. Ainda não conhecia todos os seus vassalos, mas estava aprendendo. Guardaria na memória o sobrenome do rapaz. — Vou perguntar mais uma vez — disse em voz baixa, passando a mão no rosto para tirar a água da chuva. — Quem sois vós?
O jovem aproximou-se e afastou a lâmina para o lado. Subitamente, parecia mais velho do que Chauncey supunha, talvez até mesmo um ou dois anos mais velho que o próprio Chauncey.
— Sou da prole do demônio — respondeu.
Chauncey sentiu uma onda de medo invadi-lo.
— Vós sois completamente lunático — disse entre dentes. — Saí de meu caminho.
O chão cedeu sob os pés de Chauncey. Chamas douradas e vermelhas apareceram diante de seus olhos. Encurvado, com as unhas fincadas nas coxas, ele elevou o olhar para observar o garoto, piscando e arfando, esforçando-se em compreender o que se passava. Sua mente vacilava como se não estivesse mais sob seu controle.
O rapaz agachou-se para que seus olhos ficassem na mesma altura dos de Chauncey.
— Escutai com atenção. Preciso de um favor vosso. Não partirei até consegui-lo. Vós me compreendeis?
Rangendo os dentes, Chauncey sacudiu a cabeça para exprimir descrença — e desafio. Tentou cuspir no jovem, mas a saliva escorreu pelo queixo. A língua recusava-se a obedecer-lhe.
O jovem envolveu as mãos de Chauncey nas suas. O calor era causticante e o duque soltou um grito.
— Preciso de vosso juramento de fidelidade — disse. — Ajoelhai e jurai ser meu servo.
Chauncey quis soltar uma gargalhada grosseira, mas sua garganta se fechou e o som foi sufocado. O joelho direito dobrou-se como se tivesse recebido um chute por trás, mas não havia mais ninguém ali. Chauncey desabou na lama. Virou-se de lado e vomitou.
— Jurai — repetiu o rapaz.
O calor queimava o pescoço de Chauncey. Ele precisou de toda a sua energia para cerrar levemente os punhos. Riu de si mesmo, mas não havia graça. Não sabia como era possível, mas a náusea e a fraqueza que o dominavam provinham do jovem. Não se livraria daquilo se não prestasse o juramento. Ele diria o que precisava dizer, mas jurou no fundo de seu coração destruir o jovem para se vingar da humilhação.
— Senhor, torno-me vosso servo — disse Chauncey, malignamente.
O rapaz pôs Chauncey de pé.
— Encontrai-me aqui no início do mês hebreu do Cheshvan. Precisarei de vossos serviços nas duas semanas entre a lua nova e a lua cheia.
— Quase uma... quinzena? — O corpo inteiro de Chauncey tremia sob peso de sua ira. — Sou o duque de Langeais!
— Vós sois um nefilim — disse o jovem com um meio sorriso.
Chauncey tinha um xingamento na ponta da língua, mas o engoliu. As palavras seguintes foram pronunciadas com fria perversidade.
— O que acabastes de dizer?
— Vós pertenceis à raça bíblica nefilim. Vosso verdadeiro pai foi um anjo expulso do céu. Metade de vosso sangue é mortal — os olhos escuros do rapaz se ergueram, encontrando os de Chauncey —, metade é de anjo caído.
Das profundezas de sua mente, Chauncey voltou a ouvir a voz de seu tutor, lendo trechos da Bíblia que falavam de uma raça degenerada, fruto da união carnal de anjos expulsos do céu e mulheres mortais. Uma raça temível e poderosa.
Um arrepio que não era inteiramente de repulsa atravessou Chauncey.
— Quem sois vós?
O rapaz se virou e começou a se afastar. Embora Chauncey quisesse segui-lo, não conseguiu obrigar as pernas a aguentar o próprio peso. Ajoelhado ali, com os olhos fustigados pela chuva, viu duas cicatrizes largas nas costas nuas do jovem. Elas se aproximavam, formando um V de cabeça para baixo.
— Vós sois... caído? — perguntou. — Tivestes as asas arrancadas, não?
O rapaz, anjo, seja lá quem fosse, não se virou. Chauncey não precisava de uma confirmação.
— O serviço que vos devo prestar — gritou —, exijo saber do que se trata! O riso grave do jovem ecoou pelo ar.