quinta-feira, 13 de maio de 2010

Se souvenir.



Sempre me preparei pra pouco, pelo menos no que diz respeito a uma forma especial de afeto. Talvez tenha lido muitos romances de final feliz, que, comparados ao que eu via e vivia, levaram-me a enxergar com reserva as probabilidades, de construir algo que fosse além de frágeis paixões. É nesse ritmo que tenho passado a vida: ora lamentando a superficialidade de meus laços, ora celebrando minha capacidade de, ‘controle remoto’ à mão, deter-me um pouco mais num canal, um pouco menos noutro, quando não simplesmente desligando, um tanto levianamente, a tela de minhas emoções. Claro que tudo isso tem representado um custo – às vezes mais alto do que eu poderia bancar - mas, para todos os efeitos, tenho sobrevivido. Ai surge você, jeito errante, despretensioso, semelhante a um viajante que interrompe sua jornada para apreciar a paisagem. Surpreendendo-me e, inútil disfarçar, experimento leve desequilibrado ao me perceber parte daquele panorama que o faz, senão mudar de rumo, pelo menos permanecer por mais tempo do que previsto. Segura de minhas expectativas, contudo, não demoro a recompor-me e julgando-me apta a presumir o que você considera importante, desdenho suas declarações, desencorajo suas intenções, rio de seus apelos... Ainda assim, você não desiste, e eu já sem recurso, arrisco uma teoria para explicar sua insistência: você deve estar equivocado, confundindo sentimentos, isso acontece, mas logo cairá em si e seguirá em frente, olhando pra trás apenas até alcançar a primeira curva...Erro de cálculo, fatal: você foi ficando, e o que era pra ser legal por um dia, interessante talvez por uma semana, agradável no máximo por um mês, tornou-se imprescindível por tempo indefinido. Hoje, duzentas luas mais tarde, sou eu quem se vale da escrita para, ironia das ironias, declarar minha rendição. De forma sorrateira, quase traiçoeira, foram me abandonando todas as certezas, pretensões e convicções. Como num efeito dominó, rodaram também a vaidade, o amor próprio e tantas outras tolices que antes me sustentavam. E é assim, sem chão, sem razão, e sem rodeios, que venho me ofertar pra você e, ainda que temendo a sua reação, que bem pode ser seguir viagem, te agradecer por ter me apresentado o amor, não aquele dos romances ou dos amigos, mas o seu amor, este que me contagiou e me fez querer ser, mais que tudo, sua paisagem preferida.

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"As vezes o melhor jeito de dar um bom soco é recuando, mas se recuar demais você acaba derrotado."